Sugiro a leitura de texto com o objetivo de despertar em nós a reflexão sobre a importância das palavras e das ações. As vezes as pessoas usam "palavras cinzentas" e querem ser tratadas bem, querem que as pessoas usem com ela "palavras rosas". Não faz mal a ninguém respeitar o próximo; ser gentil, educado e honesto, por exemplo, com as pessoas com as quais convivo no dia-a-dia e com aquelas que tenho um contato esporádico. Independentemente de sua cor, sexo, profissão, idade, condição social, todas as pessoas merecem respeito e todas precisam respeitar as outras pessoas também.
Uma boa leitura!!!!
"As palavras cor-de-rosa e as palavras cinzentas
Um dia, sem se saber muito bem porquê, tudo aconteceu
de repente: as palavras cor-de-rosa desapareceram do planeta. O que são
palavras cor-de-rosa? São palavras delicadas, como Obrigado, Faça favor, Se não se importa, És tão importante para mim. Palavras tão doces que são como mel no coração.
Seria obra do Mago Cinzento, que só gostava do
salgado, do picante e do amargo? Não… Eram os homens que, vá lá saber-se
porquê, preferiam as palavras picantes, amargas e salgadas.
Naquela época, existiam na Terra lojas de palavras
cor-de-rosa e lojas de palavras cinzentas. Os vendedores de palavras
cor-de-rosa vendiam Amo-te, Penso em ti, Muito Obrigado, Se faz favor… Os vendedores de palavras cinzentas vendiam sobretudo Cabeça de alho chocho, Não me chateies, Cala o bico…
A princípio, comprava-se muito mais palavras
cor-de-rosa do que palavras cinzentas. Os vendedores de palavras
cor-de-rosa faziam bons negócios, e um perfume doce envolvia a Terra. Os
vendedores de palavras cinzentas passavam os dias à espera, porque só
tinham clientes uma ou duas vezes por ano, por alturas de grandes
zangas.
No entanto, um dia, os homens puseram-se
estranhamente a comprar palavras cinzentas. Havia uma crise de emprego,
uma greve de corações. Os patrões compravam muitos Vá pregar a outra freguesia, Está bem arranjado, homem, Obrigado pelos seus serviços mas está despedido. Havia guerras entre famílias, divórcios, casais que já não se entendiam. Invejas entre irmãos, zangas… Comprava-se vários Já não gosto de ti, Acabou tudo. Nas lojas de palavras cor-de- rosa, muitos Obrigado, Por favor, Gosto de ti, ficavam por vender.
— Para o diabo com as palavras doces — diziam os homens. — São caras e não trazem nenhum benefício.
Os vendedores de palavras cor-de-rosa, desolados, já não sabiam onde as armazenar.
As lojas cor-de-rosa fechavam umas atrás das outras. Passa-se, Fechado por morte do proprietário, Liquidação total, Quinze palavras cor-de-rosa pelo preço de uma.
Mas, mesmo a preços módicos, elas não atraíam ninguém. As lojas de
palavras cinzentas, essas sim, prosperavam. Porque, e isso é bem
conhecido, as palavras feias são contagiosas. Se no recreio te lembrares
de lançar uma, receberás dez em troca! Abriram-se mesmo lojas
especializadas em palavras feias, risos grosseiros, insultos horríveis. E
os vendedores cinzentos trabalhavam dia e noite para descobrirem jóias
raras, as palavras mais horríveis e mais maldosas!
Como receavam ficar sem provisões, como costuma
acontecer em tempo de guerra, as pessoas começaram a fazer conservas de
palavras cinzentas. Congelaram-nas às dúzias, empilharam-nas nos
armários da cozinha, nos guarda-fatos, debaixo das camas.
E, upa, ao menor atrito, ao mais pequeno gracejo, à mais insignificante discussão, ia-se à reserva: Cala o bico, Vai ver se chove, És um atraso de vida, Ó gordefas, e assim por adiante!
Os aniversários tinham lugar no meio dos piores insultos. Cantarolava-se Infeliz aniversário, infeliz aniversário,
lançando-se uma bomba de palavras feias no meio da festa. Entre os
adultos, para se festejar a passagem do ano, comia-se as passas e
bebia-se sumo de peúgas pretas, no meio de gracejos do género:
— Desejo-te um ano péssimo… e, principalmente, muito pouca saúde!
E, quando se abriam as prendas, era um concerto de gemidos:
— Que feio! Como é que tiveste uma ideia tão má? É, de facto, o presente que eu menos queria receber!
Antes das aulas, as crianças corriam para as lojas
cinzentas e enchiam os bolsos de palavras feias para a hora do recreio.
Antes das férias, os adultos também lá iam, para encherem as malas de
palavras cinzentas, de piadas estúpidas, que atiravam pela janela na
auto- estrada, entre as sandes e o café, durante os engarrafamentos: Ó aselha, vai mas é plantar batatas!
À face da Terra, a atmosfera era glacial. O Sol, que
tem medo das grosserias e dos arraiais de pancada, recusava-se agora a
brilhar. Lembrava-se de outros tempos, em que era acolhido de braços
abertos:
— Está bom tempo! Que maravilha! Obrigado, amigo Sol… Oh, meu Deus, como gosto do Sol…
Em vez disso, ouvia-se agora:
— Que calor horrível! Bolas! Kêkalôr!
Então as nuvens invadiram o céu, e a terra mergulhou
num período glacial. Toda a gente tinha frio. As pessoas recusavam-se a
despir-se, já não faziam festas umas às outras, já não nasciam bebés. A
Terra estava tão triste, sem flores nem palavras cor-de-rosa!
No entanto, algures no mundo, um rapazinho não queria
habituar-se às palavras cinzentas. Talvez por, no seu bolso, ter ficado
uma palavra cor-de-rosa meio gelada. “Eu”, dizia Pedro, “não quero um
mundo onde mais ninguém canta; onde não se diz bom dia, nem obrigado,
onde há sempre tanto frio. Vou ver se encontro o Sol.” O rapazinho
caminhou durante muito tempo, escalou colinas geladas, pequenas e
grandes montanhas, vulcões extintos. Por fim, ao cabo de meses e meses
de árdua caminhada, chegou exausto e transido à casa das nuvens.
— Toc, toc — bateu. — Venho à procura do Sol.
— Oh, oh! — exclamou a nuvem-chefe, que se tinha
apoderado do céu cinzento. — Olhem só para isto… Um fedelho ridículo que
vem à procura do senhor Sol! O Sol não aparece a ninguém! Desde que as
palavras cinzentas tomaram o poder, somos nós, as nuvens pardacentas,
que somos os chefes.
Dito isto, virou as costas e fechou-lhe a porta na cara.
O rapazinho sentou-se, confuso. Como responder? Não
trazia no bolso uma única palavra cinzenta. Então, começou a chorar. A
nuvem olhou para ele surpreendida: já há muito tempo que não via ninguém
chorar! Naquele universo glacial, todos os olhos estavam gelados, todos
os corações estavam frios.
— Pára com isso imediatamente! — gemeu a nuvem. — Se
não, vou fazer cair um aguaceiro. (Porque as nuvens têm habitualmente a
lágrima ao canto do olho.)
Finalmente comovida, tomou, lá no íntimo, a decisão de o ajudar.
— Olha — disse-lhe. — Aquela bolinha amarela ali em baixo é o Sol.
Pedro abriu os olhos e viu de facto uma bola de
bilhar perdida na imensidão do azul: era o Sol, que estava a desaparecer
por causa dos maus-tratos.
Já no limite das forças, o rapazinho caminhou em direcção da pequena bola amarela.
— Bom dia — cumprimentou. — Vim buscar-te. Tudo se
tornou cinzento na Terra. Temos frio, sentimo-nos mal. Nunca nos rimos,
nunca dizemos palavras delicadas. Tens de voltar.
E o Sol e o rapazinho começaram ambos a suspirar, pensando naquela “época cor-de-rosa”.
— Tens de voltar — insistiu Pedro.
— Vou, a título de experiência — resmungou o Sol. —
Mas atira primeiro para a Terra estas palavras cor-de-rosa. Assim, o meu
regresso será mais agradável.
O Sol deu ao menino um conjunto de palavras cor-de-rosa: Por favor, É simpático da tua parte, Muito obrigado, Gosto muito de ti, Amor da minha vida, Se não se importa, etc. O rapazinho meteu-as nos bolsos, na boca, no boné, nas meias, em todo o lado. Todas as que ele conseguisse levar.
Regressou à Terra e distribuiu-as ao acaso.
De repente, nos engarrafamentos, as pessoas começaram a desdobrar os papelinhos cor-de-rosa: Faz favor de passar, Que tempo tão bonito, não acha?, Pode ir à minha frente, não tenho pressa nenhuma…
Nos recreios, começaram a ouvir-se novamente risos
simpáticos e palavras como És o meu melhor amigo, Claro que podes entrar
no jogo…
Em casa, as crianças voltaram a usar palavras cor-de-rosa: Obrigada, mamã, Por favor, Desculpa, não fiz de propósito…
Nos aniversários, cantava-se alegremente e, nas festas da passagem do ano, formulava-se votos de felicidade e de saúde.
O Sol voltou a brilhar e a deitar-se todas as noites
na sua nuvem cor-de-rosa. E, juro-te, os vendedores de palavras
cor-de-rosa começaram a fazer fortuna! Abriram-se mesmo outras lojas
especializadas em sorrisos, em suspiros de satisfação, em delicadeza, em
cortesia, em civismo… Foi como mel no coração.
Quanto às palavras cinzentas, decidiram, diante de
tanta felicidade, desarvorar com quantas patas cinzentas e peludas
tinham. E, quando alguma se lembrava de vir meter o nariz, garanto-vos
que não ficava por muito tempo."
Fonte: http://humanizar.wordpress.com/. Acesso 29 de maio de 2012, as 21:58 h.
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